a minha saga pelo mundo do cinema

Construí muita coisa ao longo dos últimos 20 anos de jornalismo em áreas diferentes, como referi no post anterior (sinto-me membro da tribo do cinema, dos automóveis e mobilidade e da tecnologia). Aqui foco-me mais em experiências que tive na área do cinema, aquela que na verdade é a minha especialidade mais antiga e que foi a primeira paixão (em geral e em jornalismo) — quase desde os anos 1980, a década em que nasci.

emot - João Tomé
18 min readJan 6, 2022

Fui jornalista que começou dividido entre temas de sociedade normais — inclusive incêndios de verão — , desporto, mas sempre com a cultura (especialmente o cinema) a chamar por mim.

Em 20 anos fiz rádio, TV, imprensa, podcasts, vídeo e posso dizer que me especializei acima de tudo em cinema (entrevistas aos protagonistas, incluindo reportagens a bastidores, e críticas semanais aos filmes), automóvel e mobilidade (ensaios a mais de mil veículos, centenas de peças televisivas com pitadas de programa de viagens) e tecnologia (e ciência).

Durante anos também escrevi sobre desporto (especialmente futebol), cheguei a fazer críticas de livros, de concertos, teatro, reportagens de viagens e afins — há uns 15 anos coloquei o Ricardo Araújo Pereira a entrevistar um dos Monty Python, o Terry Jones. E sempre tentei incluir pitadas de áreas que me apaixonam, como o cinema, a história ou a ciência (na tecnologia é muito fácil e útil incluir a ciência).

O cinema, em Portugal, foi perdendo fulgor como área jornalística o que é lamentável por vários motivos — mesmo que muitos dos críticos da velha guarda não se soubessem reinventar.

Eu, João Antunes, Bruno Martins, Rui Tendinha, Paulo Portugal, por volta de 2011, no bar do hotel onde estávamos para um junket, em Londres (eu tinha acabado de chegar após ter ido ver uma peça de teatro com o Ethan Hawke e ter conseguido falar durante uns minutos com ele pelas ruas de Londres). Se não estou em erro no dia seguinte íamos conhecer o Hugh Jackman.

As memórias como jornalista ligado ao cinema

(nunca foi possível e, em certa medida, também não quis ser jornalista de apenas e só uma área. se tivesse de escolher uma apenas, provavelmente seria o cinema e as histórias audiovisuais em geral — séries e afins)

O que se segue são memórias soltas que me foram surgindo, sem grande critério (isto foi escrito numa madrugada de insónia). Incrível lembrar-me ainda de tantas coisas.

Lembro-me de momentos ‘soltos’ como estar algures em 2004 ou 2005 numa sala da Cinemateca Portuguesa a assistir a um visionamento do novo filme do Harry Potter e sentir um privilégio por poder estar ali, antes dos outros, a vibrar com algo especial e poder escrever sobre isso depois. Ter de escrever, de forma obrigatória, também tira algum prazer à experiência e quando temos isso como profissão percebemos depressa que não deixa de ser trabalho.

Ainda assim, momentos como em 2009, quando pude numa entrevista tratar o Robin Williams por Oh Captain, My Captain, e vê-lo emocionado, ou como quando pude fazer perguntas ao José Mourinho após um Inter-Man. United em 2010. Ou quando me senti verdadeiramente nas nuvens em Londres, acho que em Dezembro de 2008, quando pude entrevistar o elenco e realizador de um dos filmes que mais me marcou naquele ano, Doubt, e falar de forma tão sentida sobre a essência humana. Pequenos momentos e conversas com Steven Spielberg ou assistir à simpatia solidária do Peter Jackson para comigo numa entrevista televisiva em Madrid também são especiais, ou entrevistar dois jovens britânicos promissores em início de carreira como Benedict Cumberbatch e Tom Hiddleston, passear pelas ruas de Londres com o Ethan Hawke, ou sentir-me verdadeiramente nervoso e com poucas palavras (acho que foi a primeira vez) na presença de Sir Ben Kingsley.

Fazer rir, sorrir e participar em piadas em conferências de impresa com o Russell Brandt, o Adam Sandler ou o Robert Downey Jr, entrevistar realizadores que admiro profundamente como o Peter Jackson (já referido), Shane Black, John Patrick Shanley, Stephen Frears, Peter Morgan ou o Richard Curtis ou ouvir em primeira mão da Viola Davis as suas histórias por uma vida melhor, ou poder confraternizar e fazer todas as perguntas de que me consegui lembrar ao sempre disponível The Rock.

Ou dar concelhos sobre bons sítios para visitar em Portugal à Amy Adams, falar sobre as suas viagens por Portugal com o Ryan Reynolds ou trocar histórias de infância dos anos 1980 com o Jake Gyllenhaal porque ambos até temos a mesma idade.

Na ida a Londres em 2008 onde deu para estar com Amy Adams, Viola Davis, John Patrick Shanley, lembro-me de um momento de confraternização entre jornalistas de vários sítios da Europa, antes das entrevistas, onde estava também o João Lopes e o Rui Tendinha e me senti verdadeiramente em casa com pessoas que mal conhecia. Eles os dois são cinéfilos que admiro há muito—entrevistei o João Lopes em 2003 para a Gazeta das Caldas, numa rubrica que criei na altura com o incentivo do grande Carlos Cipriano chamada Um Caldense há Conquista de Lisboa, um nome inspirado num livro sobre o pintor caldense José Malhoa). Estava no mesmo grupo de mesas redondas (para as entrevistas) do João Lopes e lembro-me de sentir orgulho (e alguma aceitação como membro da tribo) por estar ali ao lado dele a fazer perguntas àqueles protagonistas talentosos sobre uma história tão profunda (nem todos os junkets são de filmes tão densos e cativantes).

Falar sobre cinema, sentir o entusiasmo pelas histórias, pela essência humana representada no grande ecrã mesmo quando até não tínhamos opiniões iguais era sentir ter encontrar uma tribo que vibra da mesma forma do que eu. Eu puto nos 20s, conheci jornalistas britânicos com carreiras de décadas no cinema e senti a paixão pelo cinema tão intensa quanto a minha neles, da mesma forma como senti em tantos atores, escritores e realizadores com quem pude por uns minutos partilhar belos momentos.

Também me lembro da vez, em Londres, em que o Hugh Jackman, outro ser humano incrivelmente afável e simpático ao nível do The Rock, sem querer me mostrou o seu número de telemóvel e pediu-me que guardasse segredo, ou quando o Benedict Cumberbatch se irritou porque achou que lhe estava a fazer uma pergunta pessoal, mas depois o Tom Hiddlestone explicou-lhe que ele tinha percebido mal e ele deu-me um abraço e pediu-me mil desculpas (havia mesas redondas com a presença de jornalistas das revistas cor de rosa que se tornavam tensas por causa das perguntas invasivas ou só estúpidas).

Outro momento peculiar, foi ver em Los Angeles um nervoso e tímido Robert Pattinson (estrela dos filmes Twilight) ficar bem mais solto e afável quando comecámos a conversa a falar dos verões da sua infância e adolescência na Vila Galé, no Algarve — isso e reconhecer-me umas horas mais tarde à entrada do hotel como “hey, there, nice Portuguese guy!” Aliás, essa viagem a Los Angeles em 2010, se não estou em erro, foi memorável por vários motivos (também incluiu o Robin Williams). Começou logo no aeroporto LAX, onde fiquei 3 horas retido porque não sabia que não bastava indicar que ia lá em trabalho — os jornalistas precisavam de um visto especial. Aprendi essa lição da pior forma e as minhas colegas de viagem Sílvia Martins (Miss Martens) e Tânia Reis (Miss Reyes) — eu era o Mr Joel Tomei— ficaram à minha espera esse tempo todo para irmos juntos para Beverly Hills. Além de visita ao passeio da fama, Santa Monica Pier e praia e ao Farmers Market, recordo-me de um jantar em que fomos seguidos pelo funcionário do restaurante pela rua porque… não deixámos gorjeta (perguntou se tinha havido algum problema, porque não deixámos gorjeta, respondemos que não dava para por a gorjeta nas despesas de trabalho…).

Também houve algures no tempo destas aventuras ligadas ao cinema um momento em que eu e o Tendinha ficámos uns minutos presos no elevador com o ator Jay Baruchel (que também entrevistámos) e em que ele entrou em pânico porque é claustrofóbico e o tentámos ajudar. Foi na mesma altura em que deu para trocar umas palavras numa festa com o Nicolas Cage e o Jerry Bruckheimer (produtor de tudo o que é ação e mexe) e ficar com um desenho estilo caricatura feito pelo Nic Cage — tenho algures, não sei onde.

Também foi peculiar entrevistar a malta que criou o Toy Story — ou a produtora que deu o nome à Dory. E continuando a senda pela memória muito espontânea, estou a escrever isto à medida que me vou lembrando de mais uns nomes, foi especial poder fazer perguntas muito concretas sobre o Indiana Jones ao Alfredo Molina ou sugerir ao Peter Jackson a leitura de um livro sobre Portugal que me apaixonava na altura (fiz o mesmo com o Kenny Ortega).

Lembro-me de fazer uma entrevista por telefone ao ator Alex Pettyfer da parte de trás de um autocarro que levava jornalistas para um jantar no meio da neve nos alpes austríacos. Ou, depois de ter entrevistado a atriz australiana Teresa Palmer num hotel de Londres, ter assistido a um paparazzo a começar a segui-la como um stalker de câmara na mão quando ela saía do hotel — ela viu-me e reconheceu-me, pediu-me para o distrair e eu aproveitei para lhe perguntar um pouco à bruta que câmara é que ele usava…

Pensando bem, foi peculiar ver coisas que pareciam ter potencial tornarem-se flops enormes. Em 2012, num press junket em Londres para o filme da Disney John Carter, parecia que estávamos a assistir ao início de uma saga memorável mas o filme teve receitas de bilheteiras desastrosas para o que custou. E eu fui bem enganado, até gostei. A parte boa foi poder falar sobre o Wall-E, Toy Story e o À Procura de Nemo — que pérolas — com o escritor e realizador Andrew Stanton (um dos realizadores mais simpáticos que entrevistei) ou conhecer uma estrela em ascenção como o Taylor Kitsch.

Sobre estrelas em ascensão, lembro-me de ter surpreendido em 2008 um jovem Zac Efron em Madrid com uma pergunta sobre o seu futuro como ator — perguntei-lhe se ele queria uma carreira como o Ethan Hawke estava a construir e ele ficou admirado: “nunca tinha dito isto em público, mas essa é precisamente a minha referência para o futuro, adoro as escolhas que ele tomou”.

Mas também fiquei desiludido com a jovem estrela (em não ascenção) Dakota Fanning, numa entrevista em Los Angeles sobre o Twilight 2, com o incrível Michael Sheen ao lado dela, em que ela não tinha nada de jeito para dizer, gastando clichés pobres sobre o que queria para a sua carreira — “quero ser a cinderela e ser finalmente a princesa nos filmes”. Felizmente deu para falar com o Michael Sheen sobre futebol e o filme em que ele tinha ‘sido’ o treinador Bryan Clogh (Maldito United) e sobre o Frost/Nixon (falámos pouco sobre o Twilight). Nesse junket também foi uma desilusão ouvir um adolescente e bem fútil Taylor Lautner.

Voltando às estrelas em ascenção, fiquei positivamente surpreendido com a na altura jovem irlandesa de apenas 15 anos Saoirse Ronan — uma entrevista em 2009 sobre o filme do Peter Jackson, The Lovely Bones. Fui o único jornalista português nesse junket em Madrid e pude ver a simpatia do Peter Jackson em ação na entrevista que fiz para a SIC — a organização espanhola decidiu encurtar a minha entrevista a meio porque queriam levar o Peter Jackson para ser entrevistado pela impresa espanhola a seguir, ele percebeu que fiquei atrapalhado, ignorou a organização e disse-me para continuar a fazer perguntas (os jornalistas espanhóis levavam sempre tradutores que irritavam o talento). Após a entrevista estive na conferência de imprensa e pude falar uns minutos com o Peter Jackson no final. E no dia depois, ao sair do hotel, o Peter Jackson reconheceu-me, cumprimentou-me e apresentou-me a sua mulher, Fran Walsh (iam passear).

Sobre junkets em que fui o único jornalista português, também pude entrevistar em Londres todo o elenco e o criador e realizador da série The Crown em 2016 (na altura ninguém dava grande coisa pela série que é genial, antes dela estrear na Netflix). Boas entrevistas, a Clare Foy não só é simpática como falar com ela é como nos sentirmos confortáveis, entusiasmados e em casa (sensação semelhante com a Amy Adams), mas mais marcante foi ouvir o brilhante Peter Morgan admitir a dureza física e emocional que é criar algo daquela envergadura e dizer com toda a clareza, que não sabia se teria forças para ir além das três temporadas (“por mais dinheiro no mundo”). A série The Crown segue para a 5ª temporada em Novembro de 2022.

Outro junket como único português foi o da penúltima temporada da Guerra dos Tronos. Pude entrevistar todo o elenco, foi bem giro, mas nem por isso muito memorável. Fiz boas entrevistas com a Sansa Stark, o The Hound mas fiquei mesmo fã foi da Aria Stark, Melisandre e do Euron Greyjoy.

Outra história peculiar foi com o realizador Shane Black. Escreveu e em alguns casos realizou clássicos como a saga Arma Mortífera, O Último Grande Herói, A Fúria do Último Escuteiro, Predador, Kiss Kiss Bang Bang (o filme que permite a Robert Robert Jr recuperar a carreira e tornar-se no Homem de Ferro). Entrevistei-o em 2013 a propósito de Homem de Ferro 3. Eu aprendi com um experiente jornalista escocês a sentar-me sempre perto do talento nas mesas redondas por vários motivos — proximidade física ajuda a controlar melhor o gravador, a controlar melhor a conversa e também a ter a facilidade de fazer mais perguntas e interagir de forma mais direta. E com o Shane Black acabei por apanhar algumas vezes com salpicos da garrafa de 1,5l água que ele não largava de forma nervosa. Ele tem tiques nervosos e não consegue parar quieto, portanto sempre a beber água de forma atabalhoada e sempre a tremer a perna, mas ele explicou e acabámos a rir os dois.

Definitivamente queria ter tido mais tempo com o Steven Spielberg — foi um minuto num momento de passadeira vermelha e uma pergunta numa conferência de impresa — com o Richard Curtis, foram quatro simpáticos minutos na mesma passadeira vermelha. Mas também com o Mike Newell, foram breves perguntas em 2010 sobre um blockbuster (Príncipe da Pérsia) quando eu queria era falar de Quatro Casamentos e um Funeral, Donnie Brasko ou Harry Potter.

Outra coisa recorrente destas entrevistas eram os jornalistas irritados com o ‘talento’. Fui ouvindo coisas como: Ele não disse nada de jeito, não quis falar daquilo que eu queria, eles só têm de vir ali e responder a tudo com um sorriso nos lábios. Sempre discordei. E sempre me tentei colocar no lugar de alguém que adora fazer filmes (ou séries) e depois tem de responder dezenas de vezes às mesmas perguntas, algumas bem invasivas ou parvas. E por isso sempre tentei ser algo original no que perguntava, dentro do possível e sempre compreendi bem quando alguém claramente não estava com vontade de estar ali.

O crítico de cinema João Antunes diz que a Amy Adams “perdidinha” por mim :P Simpática e interessada era, o resto não sei.

No campo das memórias as idas frequentes a Londres para entrevistas ali entre 2008 e 2016 foram preciosas. Eu e o Bruno Martins chamavamos a Londres “home” sempre que chegávamos.

As pessoas

Além das muitas pessoas que se conhecem nestas viagens de cinema por vários sítios do mundo, há alguns portugueses com quem partilhei várias destas aventuras. Há um sentimento, como já referi, de pertença a uma tribo quando nos entendemos de forma tão natural com pessoas que sentem o cinema como nós, mesmo quando as opiniões e os gostos sejam totalmente diferentes.

Por exemplo, lembro-me de uma longa viagem de comboio com o Paulo Portugal, o João Antunes e o Tendinha em que a paixão pelo Manoel Oliveira era bem diferente entre os três, sendo eu o mais céptico em termos de paixão pelos seus filmes (achava vários dos mais recentes manifestamente maus, mas respeito imenso a sua história incrível)— até o entrevistei em 2007, no dia em que fez 99 anos (uma entrevista de uma hora difícil porque a mente dele já patinava bastante).

Já falei de algumas memórias com o Tendinha, João Lopes e com o Bruno Martins, mas lembro-me também do Paulo Portugal a dançar com uma mulher com o dobro do tamanho dele algures em Barcelona (tenho imensas histórias com o Portugal em vários países diferentes); dos passeios com o João Antunes ao Tate Modern em Londres aproveitando o tempo livre antes de um junket; dos almoços com a Maria João Rosa num bairro trendy de Paris a falar do quão entusiasmante era fazer a área do cinema para quem ama mesmo a Sétima Arte; da vez em que conheci pela primeira vez o Vítor Moura, num junket com o Nic Cage, em Barcelona; das histórias loucas que o Mário Augusto contava sempre que o encontrava (colaborei com o programa dele da SIC Notícias 35mm); das conversas com a Inês Gens Mendes após visionamentos ou junkets da Netflix. A primeira conversa após visionamento de que me recordo até foi com o Pedro Mexia em 2004, no antigo Quarteto quando foi lançado o Donnie Darko: The Director’s Cut (o filme foi lançado em 2001 mas esta foi uma versão mais longa que cumpria os desejos dos realizador).

E lembro-me também de ter falado durante mais de uma hora com o Nuno Markl após um visionamento ou antestreia de um filme qualquer por volta da mesma altura (2004 ou 2005) e de sentir, “bem, não só falamos os dois a língua do cinema como partilhamos os mesmos gostos!” Há sempre um orgulho juvenil nesses pequenos momentos para um puto de 23 anos que está a começar. Falei com o Markl mais algumas vezes sobre cinema nos anos seguintes—por volta de 2008 ele foi meu professor num curso de escrita de humor da ACT/Produções Fictícias e dei-lhe boleia algumas vezes para Benfica, era quase inevitável a conversa não ir parar ao cinema.

Fiz dois desses workshops das Produções Fictícias, um nas instalações da ACT, outro nas próprias instalações das Produções Fictícias perto das Amoreiras. No primeiro deu para beber muito sobre cinema com pessoas experientes e que admiro como o António Pedro Vasconcelos ou o Nicolau Breyner, mas no segundo (talvez em 2008 ou 2009) fiquei fã do Tiago R. Santos e foi com ele que tive mais conversas sobre cinema nessa altura (ao longo dos anos que se seguiram vimo-nos várias vezes em junkets de filmes que ele escreveu, alguns deles com dos melhores argumentos do cinema português).

Mais recentemente (2018) lembro-me dos jantares entusiasmantes em Roma, Itália, num junket da Netflix (onde deu para entrevistar e ficar fascinado com pessoas como o Reed Hastings) com o Jorge Mourinha e o João Salvador (posso estar-me a esquecer de alguém). Partilhou-se belas histórias sobre a paixão pela Sétima Arte e não só (estou a incluir séries aqui… já que há cada vez mais que são verdadeiros e longos filmes—veja-se o documentário da década, Get Back, sobre os Beatles).

Um ano antes, por volta de 2017, estive muito perto de fazer um programa sobre cinema na rádio (TSF) chamado Lanterna Mágica com alguém da minha tribo do cinema, a Cláudia Arsénio. Chegou a haver projeto aprovado pelo diretor da TSF e patrocinador (que eu arranjei) mas caiu por terra porque a área comercial queria mais dinheiro. A Lanterna Mágica é um nome de projecto que anda comigo desde 2008 — sempre quis fazer um programa de TV com esse nome e tive várias ideias para esse mesmo programa (inspiradas num dos meus realizadores preferidos, Alfred Hitchcock, e do seu Hitchcock Presents.

Sou fã do Miguel Somsen desde que ele escrevia sobre cinema há uns 20 anos (temos gostos cinematográficos parecidos, tal como com o Markl) e já falei algumas vezes com o Miguel mas noutros contextos, e não me recordo de falarmos sobre cinema—nunca tive oportunidade de lhe dizer, por isso, que admiro MUITO os textos dele sobre cinema. Os textos dele foram úteis para eu formar a minha própria voz a escrever sobre filmes—o Markl, Tendinha, João Lopes ou até a Ana Markl, também a conheci em visionamentos, o Mourinha ou o Eurico de Barros também foram influências portuguesas.

Uma nota também para o Vasco Câmara, editor do Y — agora Ípsilon— do Público, que deu algumas oportunidades em 2003 a um puto estagiário de 22 anos (eu), que até estava alocado à secção de desporto, de participar no projecto com alguns textos e entrevistas a personalidades para rubricas. Foi a minha estreia oficial a escrever profissionalmente sobre cinema e estarei sempre grato.

Outra memória recorrente, mas que até nem é num contexto de jornalista nem propriamente de cinema (embora ele até seja bom ator nos incríveis videoclips dos Foo Fighters), foi da conversa de uns 20 minutos com o Dave Grohl, por volta de 2004, ambos sentados na calçada numa rua no Chiado (foi ele que me ‘entrevistou’, na verdade).

Podia contar mais memórias sobre as minhas aventuras na área automóvel e da mobilidade (só do programa TV Turbo e Volante tenho centenas com dezenas de pessoas que admiro) e também da tecnologia (a minha área principal nos últimos anos) — com o podcast Made in Tech, então, foram várias dezenas de entrevistas com gente incrível. Deixo só uma: em 2018 entrevistei o monge budista brasileiro que acompanhou bem de perto Steve Jobs nos últimos 8 anos da sua vida (ao ponto de ser referido no livro de 2018 da filha de Jobs). Ouvi histórias peculiares sobre Jobs, mas também sobre o próprio monge budista que tem uma história de vida incrível, entre o Brasil e os EUA — onde se tornou guru espiritual de alguns dos homens mais influentes do planeta.

Despeço-me com amizade, até uma próxima insónia (em carvão).

PS: Consegui conter-me e não contar histórias com o Rui Tendinha em saunas e banhos turcos de hotéis de luxo.

PS2: Lembro-me de ter uma história gira qualquer com o Jeremy Irons, numa entrevista num junket em Lisboa, mas não me lembro bem qual era. Também me estava a esquecer já de uma conversa já pós-entrevista com o Paul Auster sobre cinema, numa livraria de Lisboa, que estava a irritar a assessora que o queria levar para outro evento.

PS3: Já nem me lembrava, mas também tive uns momentos com o Terry Jones, dos Monty Python, que envolveram conversas sobre cinema mais focado em comédia e não só, também sobre história e viagens. Entrevistei-o três vezes no espaço de pouco tempo quando ele esteve uns meses por Lisboa a fazer uma peça de teatro (foi a mesma altura em que pus um muito nervoso e tímido na altura Ricardo Araújo Pereira a entrevistá-lo).

PS4: Entrevistei em 2015 a Scarlett Johansson a propósito de um dos Vingadores — tinha um crush por ela há vários anos portanto havia entusiasmo—mas embora ela não me tenha desiludido não ficou nada de particularmente relevante na memória, tirando o facto dela ter passado a mesa redonda que era com dois atores, a brincar com o Jeremy Renner e a ignorar o jornalistas. Não a culpo por isso, faz parte, até porque os junkets podem ser muito aborrecidos para os actores como seriam para qualquer pessoa.

PS5 (adenda): O Rui Pedro Vieira lembrou-me, e bem, que escrever sobre cinema de forma mais organizada começou para mim (e para ele) algures no final de 1999 ou início de 2000, quando num dos primeiros trabalhos da faculdade eu e o Rui juntámo-nos para criar um site (essa era a missão—o professor era o Jorge Rosa). Em DreamWeaver, se não estou em erro. Ambos tínhamos a mesma paixão, o cinema, portanto a escolha do tema foi muito fácil e óbvia. Resultado? Criámos um microsite chamado MagaCINE com elementos da história do cinema, mas também com fichas sobre protagonistas e explicações sobre alguns dos filmes mais memoráveis dos tempos recentes. Recordo que 1999 foi o ano de Matrix, Fight Club, Beleza Americana, Magnólia, O Sexto Sentido — filmes que me marcaram muito, especialmente o Clube de Combate, que me levou a fazer outro trabalho de faculdade só sobre o filme e a assistir a algumas cenas dezenas de vezes (1999 também é o ano do Blair Witch Project e do Nothing Hill). E o início de 2000 é o ano de Branca de Neve, do César Monteiro. Fazer o site além de várias conversas na faculdade e em Lisboa, levou também a um fim de semana nas Caldas da Rainha (my hometown e onde o Rui tem uma tia, se não estou em erro) repleto de conversas sobre cinema para finalizar o projeto (uma das coisas que mais gozo me deu fazer na faculdade). Ficou um site porreiro, para a altura, e que até aí há uns 5 anos ainda existia, no Sapo, mas foi essa a altura em que algum gestor brilhante acabou com o alojamento de sites no Sapo, inclusive os que já lá andavam—apagando assim da Internet vários anos de sites e memórias. Um dia triste, que também fez morrer outro projeto de site que fiz mais tarde na faculdade, por volta de 2002, com o grande João Santos Duarte e com a minha agora mulher Ana Filipa Gaspar, que mais não era do que um conjunto de várias reportagens sobre a reabertura da Cinemateca Portuguesa. Esse foi outro projeto em torno do cinema e da sua história que ficou um mimo e que deu um gozo imenso a construir, contando histórias que iam do projeccionista com décadas de filmes nas mãos, à história das bobines que decoram uma das partes principais da renovação. Em tom de confissão: assim que tive acesso à Internet, ali por volta de 1997, comecei a ser ávido consumidor do IMDb e a fazer listas dos filmes favoritos, mas também das alturas dos atores (era uma panca).

PS6: A saga pelo mundo do cinema também me colocou em contacto com verdadeiros apaixonados pelo cinema nas distribuidoras — Warner/Columbia, Medeia, NOS Lusomundo (sou do tempo em que era só Lusomundo), Valentim de Carvalho, Prisvideo, Marco de Comunicacion (Netflix), Brieftwice (HBO, Disney), Cinemundo e mais algumas que ficaram pelo caminho ao longo dos ano. Foram dezenas as pessoas com que contactei ao longo dos anos no visionamentos, emails sobre as novas estreias, junkets, etc. Mas há uma mais especial, a Cátia Neves, que além de ser baronesa da distribuição e promoção de filmes desde 2004 foi também, entre 1999–2003, minha madrinha emprestada na faculdade (FCSH).

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emot - João Tomé

Former journalist. Explorer. Caldense. Portuguese. Cinema, tech, cars, and football... it's all about passion. In life since the 80s. João Tomé